por Saylon Sousa
Sei que pode parecer chato, mas não custa repetir: estamos na reta final do período eleitoral. Com exatos 14 dias até o momento de decisão do pleito (2 de outubro), candidatos já se animam com as possibilidades de vitória – que podem ser de todas as formas possíveis desde a aceitação nas urnas quanto as afiliações partidárias – e assim caminham o processo em toda aquela normalidade duvidosa que o brasileiro está acostumado a participar.
E falando em estar acostumado… Tem certas situações que acabam se tornando valores culturais desta nação e as Eleições são destas situações. Aquela crítica aos políticos pedidores de votos, lamúrias sobre a permanência de alguns nomes em detrimentos de outros etc. Tudo isso enraizado no brasileiro que reclama como um costume, mas nada faz para mitigar esses infortúnios.
Há até que se parabenizar minirreforma eleitoral feita em 2015 e já em vigor neste pleito municipal. Não há um que não tenha sentido uma mudança sustentável na abordagem descabida por parte dos candidatos. Ouviu-se menos carros de sons, viu-se menos carreatas da vitória com buzinaços estúpidos, menos poluição por parte dos santinhos no chão (mas não sei como vai ser isso no dia 03!), nada de paredes cheias de cartazes com fotos que mostram o mal domínio dos softwares de edição por parte das gráficas ludovicenses… E o Rádio e a TV! Essa sim foi para este que vos escreve a maior mudança e mais acertada.
Diluída e menor a propaganda eleitoral gratuita nos veículos de comunicação de massa quase me fez esquecer que uma disputa pela prefeitura de São Luís existe. Não me senti nem um pouco enfadado em ter que acompanhar severos minutos de oratória prolixa e com certo teor de falácia. Como tudo não é perfeito ainda me incomoda é a forma como o horário da propaganda eleitoral é dividido. Como podemos nos determinar por democráticos quando a própria Justiça Eleitoral define que por questões de coligações e força partidária candidato A terá um tempo de rádio/tv maior que candidato B, C, D e assim por diante. Essa peneira em si já é um limitador de possibilidades aos eleitores. Afinal de contas o ser humano – e o brasileiro – necessita ouvir para compreender. Lamento pelos partidos de pouca expressão. Essa é uma causa que ainda requer revisões. No entanto não é disso que quero falar ainda.

Esse artigo existe porque o que realmente intriga este que vos fala é uma outra situação corriqueira das Eleições Brasileiras, principalmente as municipais. Lembra quando falei de se acostumar e valores culturais? Então, tem algo que exemplifica isso de forma cabal: as candidaturas ao cargo de vereador.
Um cargo de bastante importância para a estrutura política municipal, o vereador, é aquele que em definição legisla/representa o povo e as comunidades da cidade na qual foi eleito com o intuito de fiscalizar o trabalho do poder executivo municipal (prefeito) e propor projetos de lei, projetos sociais e demais recursos para a vida ideal dos habitantes.
O cargo de vereador é um cargo sério (como todos os demais) e que requer seriedade por parte de quem o assumi. De já deixo claro que não pretendo dizer que nenhum vereador de São Luís ou candidato a tal não seja sério no que faz (isso são eles que devem julgar e o eleitor mais ainda). Entretanto há uma situação que para mim já se depara com a perda de credibilidade: os nomes que alguns candidatos usam na disputa eleitoral.
Seja sincero como você. Vamos a hipótese: existem dois candidatos a vereador que você deve votar João da Neves e Bilau. Em quem você vai votar? Não tenho um dados em números, mas sei que se perguntar isso a dez pessoas as dez votarão em João das Neves. Por que? Você deve se perguntar. A resposta é simples: ninguém se sente representado por que se chama de Bilau. Eu mesmo não sinto.
Essa folclorização das candidaturas devido a uma questão distrital, bairrista etc. é mais uma falta do que um ganho para uma candidatura. Querendo ou não somos conservadores (o mais radicalista às vezes também é). Nosso senso moral nos leva de imediato a votar em quem se apresenta como é (mesmo que isso seja uma encenação) do que votar em quem atua por trás de uma personagem, de um nome artístico engraçado, de uma piada. O mesmo vale para os candidatos profissionais. Candidatos profissionais são aqueles que acima de tudo sentem-se no dever de expor que fazem parte de uma categoria. Um Antônio Pescador, por exemplo, acredita que é mais valorização a candidatura grafar no nome que é um trabalhador, do que visitar e ser presente não só no período eleitoral na luta da categoria dos pescadores. Ninguém vota nesse tipo de candidato porque já fica logo a impressão de que não passa de charlatanismo em cima da luta de trabalhadores sofridos.
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Ah, e mesmo também vale para aqueles candidatos bairristas. Quando vejo um Alex do Ipase, por exemplo, já tenho em mente de que ele está tentando se eleger pelo bairro do Ipase ou porque tem uma história lá ou porque apenas mora lá. Uma candidatura desse tipo remete a uma luta distrital, bairrista. Deixa claro que na Câmara de Vereadores caso venha a legislar de fato só o fará pelo Ipase. E os demais bairros de São Luís candidato? Você foi eleito por alguns, mas para legislar para todos! Tais candidaturas não me convencem.
Eu tenho que ser justo e falar que há situações em que isso é inevitável. Quando se trata não apenas de um líder comunitário e sim de uma celebridade, alguém que por anos foi conhecido pelo povo por aquela alcunha não há porque abdicar dela. É o caso de atletas, cantores, artistas etc. Contanto que não seja motivo de avacalhar, é mais que justo que estes mantenham seu nomes artísticos na disputa, pois acima de tudo são personalidades, celebridades.
Tem também o caso dos muitos professores enfermeiras, doutores, delegados, coronéis, sargentos, pastores etc. que se identificam por suas alcunhas talvez por uma questão de prestígio etc. No entanto isso ainda não me soa bem.
Numa passada rápida no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para conferir a lista de candidatos percebe-se que dos 669 nomes disputando o pleito cerca de 115 destes estão nele com apelidos ou alcunhas artísticas dos tipos que citei acima. Vê como há uma folclorização deste que é um momento de seriedade? Repito: não digo que nenhum deste candidatos não leve o pleito a sério. O problema é que não dá para levá-los a sério com nomes como esse. Ou você se sente representado por quem disputa a eleição ostentando o nome popular de um órgão sexual como bandeira? Pense nisso.
Você pode conferir quais os candidatos ao cargo de vereador de São Luís possuem nomes folclóricos clicando aqui.
* Todos os nomes de candidatos citados neste artigo são fictícios.